Artigo | Em ano eleitoral, amplie a comunicação de candidaturas LGBTQIAP+ - DARANA RP

Artigo | Em ano eleitoral, amplie a comunicação de candidaturas LGBTQIAP+

Luis Fernando Lisboa*

 

Nas eleições de 2018, as operações de “guerrilha” nas redes sociais, com grande ênfase nos disparos em massa feitos no WhatsApp e Telegram, desempenharam papel de relevância para que as pessoas eleitoras do Brasil escolhessem suas representações políticas nas urnas eletrônicas. Neste Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+, com a proximidade de novo “ringue eleitoral” no país, vale pensar como “hackear o sistema” para ampliar o alcance de vozes LGBTQIAP+ que buscam alcançar cargos políticos no Legislativo e no Executivo.

As estratégias de comunicação são aliadas de qualquer candidatura e, se trabalhadas de maneira integrada, serão eficazes na construção de uma marca social conectada com o público que garantirá os votos para a eleição. Assessoria de comunicação, relacionamento com a imprensa, gestão de redes sociais, campanhas publicitárias, numa combinação em prol do marketing político, são alguns de uma série de pontos para que a comunicação integrada consolide o discurso político da pessoa candidata.

No entanto, no Brasil, a distribuição de recursos para candidaturas de mulheres e de pessoas LGBTQIAP+ ainda é desigual. A maioria precisa fazer malabarismos para que sua estratégia de comunicação se sustente até o fim da campanha. Pouco recurso também significa mais sobrecarga de trabalho, mais dificuldades no processo.

Por isso, espalhar as mensagens dessas figuras políticas é um dos modos de fazer com que essas candidaturas ganhem a dimensão que precisam para serem eleitas. Vale entrar na rede de compartilhamentos e comentários em posts nas redes sociais; pesquisar e falar sobre elas e suas propostas políticas nos círculos familiares e de amizade; frequentar atividades propostas pelas candidaturas. Em suma, fazer com que as informações sobre a “política LGBTQIAP+” vá além de um debate baseado na religião ou na alegoria do que se atribui a este universo de “minorias”.

Participar da arena pública, com os marcadores sociais da singularidade de cada corpo, faz com que as pessoas tidas como “corpos dissonantes” projetem, para si, caminhos nunca imaginados. Rosane Borges, jornalista e pesquisadora da área de comunicação, comenta, no texto “Política, imaginário e representação: uma nova agenda para o século XXI?”, que “a conquista do poder passa necessariamente por agenciamento de imagens, por visibilidades (não fosse assim, o marketing político não seria a menina dos olhos das campanhas eleitorais)”.

 

EXISTÊNCIAS – Se muitas letras aparecem na sigla LGBTQIAP+, as barreiras são diferentes quando cada uma delas é olhada de maneira independente. Por isso, é necessário traçar mecanismos de inclusão para cada recorte. Os espaços não vão mudar por espontaneidade, eles só se adaptam quando pessoas de subjetividades distintas entram neles, compartilhando outras experiências de vida.

A participação de mulheres trans na política é um alento de esperança no futuro desta vastidão de vidas LGBTQIAP+. Em matéria em março de 2022, intitulada “Em busca de representatividade e eleição inédita, mulheres trans miram o Congresso”, o jornal Extra aponta uma onda de candidaturas de mulheres trans à Câmara dos(as) Deputados(as), marcando a história do País com as primeiras parlamentares trans.

Partidos de variados perfis no espectro ideológico já apresentaram candidaturas de mulheres ou homens trans. Nomes já fortes na política, como Erika Hilton e Erica Malunguinho, em São Paulo; ou Duda Salabert, em Minas Gerais; além de recém-chegadas, como Ariadna Arantes, devem disputar o pleito de outubro.

Aqui, vale mencionar que, lá nos idos de 1992, Kátia Tapety foi a primeira mulher trans a ser eleita para um cargo público na América Latina: ela foi vereadora da cidade de Colônia do Piauí (foi reeleita para mais dois mandatos neste cargo e outro como vice-prefeita). Aqui na capital baiana, Leo Kret foi a primeira vereadora trans da Câmara Municipal de Salvador, em 2008, por apenas um mandato.

 

MUDAR É PRECISO – Mesmo que mostre algum avanço, o Brasil segue como o país que mais assassina pessoas trans no mundo, segundo dados do relatório Trans Murder Monitoring, atualizado em janeiro de 2022. Em segundo e terceiro lugar, vêm o México e os Estados Unidos.

Números como esses só confirmam que outras existências, outras vozes devem ser inseridas no debate para a criação de políticas públicas que protejam as pessoas que precisam do amparo e da segurança do Estado.

Os direitos das pessoas LGBTQIAP+ não podem ser negociados, as vidas de pessoas LGBTQIAP+ não podem estar em balcões do “toma lá, dá cá”. O futuro está aí, não aguarda, e é preciso transformar um cenário político já falido, cheio de homens brancos, héteros e ricos.

*Luis Fernando Lisboa é Jornalista, assessor de comunicação na Darana RP e mestre em cultura e sociedade pela Universidade Federal da Bahia

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